segunda-feira, 21 de março de 2016

Saudades

Eu tenho amores, sem os quais eu não sei viver.

É como se eu tivesse oito corações!

Só que sete deles batem fora do meu peito.

Cada vez que algum deles é retirado de mim, me vejo meio incapacitado, amputado.

Eu só sei viver bem, se todos esses corações estiverem próximos de mim.

A distância e a falta do contato com eles me enfraquece, me adoece, pois a vida de verdade só acontece com eles à minha volta.

Cada um tem funções vitais que sustentam a minha existência.

Um deles apenas bate dentro do meu peito e confere se os outros estão perto e se estão bem. Só isso!...

Os outros sete orbitam livres pela vida, muitas vezes sem saber o quanto são essenciais pra mim, o quanto eu preciso deles pra viver.

Quando falta algum deles ao meu redor, o meu coração do peito sofre. E se faltam todos eles, não apenas sofre, mas ameaça me matar: Dá repiques doloridos e descompassados, me sufoca, aperta e estrangula minha alma, dá um nó na minha garganta e me cega olhos que enxergam as cores do mundo.

Um destes corações entrou na minha vida, assim, do nada, como fazem os anjos e as fadas. Alimenta os meus sonhos e os meus planos; me ensina a dar risadas, me mostra lindos horizontes azuis e me sustenta a alegria de viver.

Este coração mudou a minha vida! Me trouxe alegria como eu não tinha há tempos e me ensinou de novo a sonhar, como eu já não mais sabia.

Me deu tranquilidade pra dormir e, quando acordar antes da hora, dormir de novo, de um jeito que eu não conseguia.

Me mostrou de perto o que é a paz e a doçura, que eu não conhecia. Me atribuiu valores, me dedicou respeito e me fez acreditar que eu sou capaz de renascer e de crescer de novo, quantas vezes for necessário.

Enfim, me deu um gosto especial pela vida.

Quatro destes corações são partes de mim que desgarraram e ganharam vidas próprias e que me enchem de orgulho.

Destes quatro, dois  são lindos coraçõezinhos que povoaram de muitas alegrias um longo trecho da estrada da minha vida. Depois cresceram e deram pequenos frutos maravilhosos que trouxeram alegrias novas e que, de repente, fizeram o meu mundo tornar-se encantado.

Os outros dois ainda são botões desabrochando e preenchendo o meu mundo de novas esperanças, fazendo-me transbordar de tanto orgulho. Mas eles ainda precisam de mim, do meu modelo, do meu exemplo, das minhas explicações e histórias que os fazem parar e refletir, assim como precisam das minhas presepadas que os fazem dar risadas. E eu também preciso deles, dos seus abraços, de ouvir as suas vozes e sentir suas presenças!... E preciso que eles precisem de mim, senão minha existência vai parecer em vão, vazia. 

sexta-feira, 18 de março de 2016

Aguenta firme



Depois de uma despedida dolorosa em Brasília, em fevereiro de 2016, eu parti, sozinho para os EUA, pressentido que alguma coisa estava muito errada em relação a meus filhos.

Exaurido pelo estresse de dez horas de vôo sem um único cochilo, numa angustiante e quase eterna conexão de madrugada em Miami, a saudade bateu forte e fui dominado por um sentimento de vazio terrível. A incerteza sobre quando (e se) voltaria a ver meus filhos e se eu estava fazendo a coisa certa, partindo para um mundo estranho e me afastando por tanto tempo de tudo e de todas as pessoas que eu amava, me provocou um forte e doloroso  aperto no peito e uma tristeza profunda tomou conta de mim.

Procurei um canto e coloquei o fone de ouvido pra ouvir música, recostei-me numa poltrona, peguei um boné pra cobrir o rosto e, abatido pela emoção, eu não pude conter as lágrimas.
Chorei até me sentir meio desfalecido!


De repente, o saguão do aeroporto foi tomado por um fantástico solo de violão, acompanhado, em seguida, por um belíssimoo som de violino. Sem entender bem o que estava acontecendo, notei que um anjo lindo se aproximou de mim, segurou o meu rosto com as duas mãos e, bem diante dos meus olhos, me pediu que relaxasse.

Maravilhado com a imagem daquele rosto lindo, de pele fina meio transparente, entrei numa espécie de transe, com uma enorme sensação de leveza e prazer, quando ela, acariciando levemente o meu rosto, com uma linda voz suave, que parecia atingir a alma, começou a cantar:



"Aguenta firme!
Mesmo que seus dias sejam longos e tristes, mesmo que suas noites sejam vazias e solitárias, você tem que ir adiante! Aguenta firme!

Todo mundo chora!
Todo mundo sofre, às vezes.

Tem hora que parece ter dado tudo errado, mas esse não é o momento de se entregar. Não desista de você!
Aguenta firme!

Se sentir vontade de desistir, levante a cabeça e siga em frente.

Não! Não pense que você já fez tudo o que tinha que fazer na vida!

Aguenta firme!
Todo mundo sofre!
Todo mundo chora!

Se você sentir que está sozinho,
Busque apoio nos seus amigos!ão
Ah, não! Não vá fraquejar agora! 
Aguenta firme!

Não! Não!... Você não está sozinho!
Não perca a cabeça!
Você não está sozinho nessa vida!

Você ainda não fez tudo o que tinha que fazer. Tem que ir adiante!
Siga em frente! 
Aguenta firme!!..."

A voz dela foi sumindo, enquanto ela se afastava, desaparecendo numa neblina,  quando eu acordei e me dei conta de que aquelas palavras vinham da música que tocava, no último volume, ao meu ouvido. 

 Ouça: Everybody Hurts


Saudades

Eu tenho amores, sem os quais eu não sei viver. 
É como se eu tivesse oito corações! 
Só que sete deles batem fora do meu peito. 
Cada vez que algum deles é retirado de mim, me vejo meio incapacitado, amputado. 
Eu só sei viver bem, se todos esses corações estiverem próximos de mim.



A distância e a falta do contato com eles me enfraquece, me adoece, pois a vida de verdade só acontece com eles à minha volta. 

Cada um tem funções vitais que sustentam a minha existência. 
Um deles apenas bate dentro do meu peito e confere se os outros estão perto e se estão bem. Só isso!... 

Os outros sete orbitam livres pela vida, muitas vezes sem saber o quanto são essenciais pra mim, o quanto eu preciso deles pra viver. 

Quando falta algum deles ao meu redor, o meu coração do peito sofre. E se faltam todos eles, não apenas sofre, mas ameaça me matar: Dá repiques doloridos e descompassados, me sufoca, aperta e estrangula minha alma, dá um nó na minha garganta e me cega olhos que enxergam as cores do mundo. 

Quatro deles são partes de mim que desgarraram e ganharam vidas próprias e que me enchem de orgulho. 
Destes quatro, dois ainda são botões desabrochando e preenchendo o meu mundo de alegrias e de novas esperanças. Mas ainda precisam de mim, do meu modelo, do meu exemplo, das minhas explicações e histórias que os fazem parar e refletir, assim como precisam das minhas presepadas que os fazem dar risadas. E eu também preciso deles, dos seus abraços, de ouvir as suas vozes e sentir suas presenças!... E preciso que eles precisem de mim, senão minha existência vai parecer em vão, vazia. 
Outros dois são lindos coraçõezinhos que povoaram de muitas alegrias um longo trecho da estrada da minha vida. Depois cresceram e deram pequenos frutos maravilhosos que trouxeram alegrias novas e que, de repente, fizeram o meu mundo tornar-se encantado. 

Mas há um destes corações que chegou do nada, como chegam os anjos e as fadas, e que alimenta os meus sonhos e os meus planos; me ensina a dar risadas, me mostra lindos horizontes azuis e me sustenta a alegria de viver. 
Este coração mudou a minha vida! Me trouxe alegria como eu não tinha há tempos e me ensinou de novo a sonhar, como eu já não mais sabia. 
Me deu tranquilidade pra dormir e, quando acordar antes da hora, dormir de novo, de um jeito que eu não conseguia. 
Me mostrou de perto o que é a paz e a doçura, que eu não conhecia. Me atribuiu valores, me dedicou respeito e me fez acreditar que eu sou capaz de renascer e de crescer de novo, quantas vezes for necessário. 
Enfim, me deu um gosto especial pela vida. 
Sem este coração, o meu coração do peito se desespedaça. Bate sem compasso e sem ritmo. Me tira o fôlego e me engasga. Torna-se um carrasco impiedoso de mim. 
Eu acho que, assim como eu, o meu coração do peito também não sabe mais viver sem ela.